Violência Doméstica: O que é, Quais as Características, Estatísticas, Tipos de Agressão, Ciclo da Violência Doméstica, As Consequências de Conviver com ela e Como o Tratamento Psicológico vai Ajudar.
O que é Violência Doméstica?
Se trata de um padrão de comportamentos abusivos praticados por um agressor contra uma vítima em qualquer relacionamento. Isso pode acontecer entre o marido e a esposa, no namoro, entre membros da família, com crianças, entre outros.
É extremamente destrutivo, trazendo danos que alteram a vida de todos os envolvidos. Desse modo, o agressor tem como finalidade obter ou manter o controle sobre a vítima a qualquer custo.
Além disso, a violência doméstica não se restringe apenas a um perfil. Infelizmente, ela pode estar presente em qualquer classe econômica, idade, raça, gênero.
Características de Violência Doméstica
- O comportamento abusivo é frequente e recorrente
- Pode se manifestar através de um comportamento deliberado, ou pela omissão.
- Causa traumas físicos e emocionais muito graves
- Intimidação da vítima
- A agressão é um meio para o agressor chegar ao resultado desejado
- A vítima vive com medo, preocupada com a sua segurança e com sensação de perigo iminente.
Estatísticas de Violência Doméstica
De acordo com uma nova pesquisa publicada pela IPEA, o índice de violência contra a mulher é três vezes mais do que com o homem.
Assim, vamos observar alguns números sobre a Violência Doméstica:
- 43,1% – dos casos ocorrem na residência da mulher
- 36,7% – dos casos é praticada a agressão em vias públicas
- 32,2% – dos casos ocorrem entre pessoas conhecidas, tanto do agressor como da vítima
- 29,1% – dos casos ocorrem entre pessoas desconhecidas
- 25,9% – dos casos ocorrem entre o cônjuge ou ex-cônjuge
A pesquisa ainda coletou que 22,1% recorrem à polícia e 20,8% não fazem queixa.
Violência Doméstica é somente Agressão Física?
Não! Há outros tipos de agressões que prejudicam a vítima, inclusive, podendo gerar consequências tão ou mais graves do que a agressão física. Como exemplo é possível citar a agressão emocional. Ela afeta diretamente a autoestima da vítima e suas crenças sobre si mesma, resultando em um processo longo de recuperação.
Lista de alguns tipos de agressão que todos precisamos reconhecer:
Tipos de Agressão
- Física – Golpes, tapas, mordidas, socos, empurrões, arrancar os cabelos, queimar, beliscar, cortar ou qualquer comportamento violento à vítima. Também inclui negar tratamento médico ou forçá-la a usar drogas ou álcool.
- Sexual – Ocorre quando o agressor obriga a vítima ou tenta coagi-la a ter relação sexual sem o seu consentimento. Isso pode assumir forma de estupro dependendo do contexto.
- Emocional – Envolve invalidar ou esvaziar o senso de autoestima da vítima. Assim, esse tipo de agressão geralmente assume a forma de xingamentos, críticas constantes, ofensas.
- Econômica – Quando o agressor cria ou tentar tornar a vítima financeiramente dependente. Isso pode acontecer de diversas maneiras, com o objetivo de manter o controle total dos recursos financeiros. É possível que ocorra bloqueio ao acesso a esses recursos ou a proibição de estudar, trabalhar.
- Psicológica – O agressor gera medo por meio da intimidação à vítima. Então, ele ameaça machucá-la ou a seus familiares, filhos, amigos e animais de estimação. Também ameaça destruição de propriedade, isola a vítima para não ter contato com ninguém e a proíbe de fazer atividades rotineiras.
Além desses tipos de agressões, pode acontecer do agressor perseguir a vítima, espioná-la, aparecer no trabalho ou na faculdade sem avisar, enviar mensagens ameaçadoras ou quaisquer outros tipos de comportamentos de intimidação.
Ciclo da Violência Doméstica
O ciclo da violência doméstica tem basicamente 3 fases que se repetem sucessivamente:
Fase 1 – Aumento da tensão:
O clima fica tenso por conta do comportamento do agressor: Crises de raiva, irrita-se por coisas bobas, joga objetos no chão, humilha a vítima e a ameaça. Ela, por outro lado, tenta o acalmar, mas fica aflita, angustiada e faz tudo para não provocá-lo.
Fase 2 – Ato de violência:
O agressor mostra-se descontrolado, explode chegando a agredir não somente de modo físico, mas por meio de violência verbal, moral, patrimonial e psicológica (a tensão da fase 1 se concretiza na fase 2). A vítima sofre tristeza, vergonha, medo, confusão, solidão, dor, entre outros sentimentos angustiantes e intensos.
Fase 3 – Arrependimento e comportamento carinhoso (Lua de Mel)
Nessa fase, o agressor se mostra arrependido e amável com a vítima ao prometer que nunca mais fará de novo. Ele tenta se reconciliar, fazer as pazes e faz muitas promessas para que o relacionamento continue. A vítima ao ver seu remorso e o desejo de querer mudar, o aceita e dá mais uma chance a relação. Em algum tempo, o clima fica melhor, mais calmo, porém, a situação retorna para a fase 1 e o ciclo se repete continuamente.
O que diz a Legislação?
A violência doméstica possui legislação na forma de Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. É conhecida como Lei Maria da Penha ao estabelecer diretrizes para punir, proteger e dar assistência social à mulher e seus dependentes, os quais sofreram qualquer tipo de abuso pelo agressor.
Algumas informações sobre o que ela diz:
- Amplia a pena de um ano para até três anos de prisão ao agressor.
- Assegura à vítima o acesso a programas, serviços de proteção e de assistência social.
- As formas de violência contra a mulher são estabelecidas como psicológica, física, sexual, moral e patrimonial.
- São proibidas penas pecuniárias (cestas básicas, multas etc).
Quais as Consequências de Conviver com a Violência Doméstica?
A violência doméstica afeta mulheres, crianças, famílias e a comunidade. Sendo assim, as Consequências são grandes e, muitas vezes, irreversíveis em várias esferas da vida:
- Morte, lesão e incapacidade
- Trauma psicológico e emocional
- Uso de álcool e outras drogas para amenizar a dor
- Problemas de saúde física
- No ambiente familiar, cria medo e pode levar a destruição dos laços afetivos
- Conflito doméstico regular
- Envolvimento policial recorrente
- Crianças crescem sem aprender sobre relacionamentos positivos e respeitosos
- Pode gerar depressão, ansiedade, sofrimento emocional profundo, baixa autoestima, fobias e dificuldades com Sono.
Quando Procurar Ajuda?
Logo que identificar um comportamento agressivo é recomendável procurar ajuda com um familiar ou amigo íntimo. Assim, os primeiros sinais podem revelar que o agressor poderá violentá-la. Então, na fase 1 do ciclo de violência doméstica você já deve ficar atenta e conversar com alguém de confiança. Desse modo, evitará que o agressor cometa atos mais graves como destacado na fase 2.
Quem devo procurar?
A vítima pode procurar uma Delegacia de Defesa da Mulher mais próxima de sua residência. Caso não exista onde mora, então, uma delegacia é aconselhável. E, assim, presta queixa ao registrar a ocorrência. Também deverá solicitar medidas protetivas a fim de que se sinta segura e protegida.
É recomendável que, além disso, ela busque redes de atendimento à mulher para ser orientada em como proceder. Os centros de referências à mulher é uma boa alternativa para receber orientação jurídica, psicológica e assistência social.
Há a central de atendimento à mulher que funciona 24h por dia e é gratuita. Basta ligar para 180, informar o ocorrido e que necessita de ajuda.
Se informe, Ligue, Denuncie!
Devo terminar o relacionamento?
Apesar de ter bons sentimentos e ter desenvolvido uma história com essa pessoa, você deve fazer algumas perguntas a si mesmo para tomar essa decisão:
- Você será feliz e se sentirá realizada ao continuar esse relacionamento?
- Você será capaz de atingir os seus objetivos?
- Você se sentirá segura?
Se você decidir permanecer nesse relacionamento, seja honesta consigo. A mudança é um processo e a própria pessoa precisa decidir mudar o seu padrão de comportamento abusivo (não é fácil). Assim, não é realista você tentar consertar alguém que lhe abusa. E esteja ciente de que, ao continuar com essa pessoa, o risco de ser agredida e violentada tende sempre a aumentar.
Ao decidir terminar o relacionamento, certifique-se de tomar medidas de proteção, pois o agressor poderá tentar coagi-la ou ameaçá-la por não aceitar sua decisão.
Como o Psicólogo pode Ajudar?
O psicólogo pode ajudar a vítima a encontrar segurança e se recuperar dos traumas subsequentes a um relacionamento abusivo. Sendo assim, esse o Psicólogo pode:
- Avaliar o risco ao compreender os fatores baseados em evidências e sinalizar perigo
- Instruir quanto ao conhecimento sobre o impacto na vítima
- Trabalhar em práticas para fortalecimento da vítima e sua autoestima
- Fornecer suporte quanto aos processos policiais e jurídicos
Dicas importantes
- Busque grupos de apoio à mulheres que sofrem de violência doméstica para receber suporte e orientação
- Quebre o silêncio ao conversar com aqueles com quem confia
- Admita para si mesmo que a culpa não é sua e nunca será!
- Lembre-se que não está sozinha e que procurar ajuda é a melhor forma de começar a mudar as coisas.
Se você está lendo isso é porque de alguma forma, você precisa ajudar alguém, ou você precisa de ajuda… Não ignore os sinais, não normalize o abuso! Busque a ajuda que você conseguir, mas busque. Não permita que este processo prossiga calada. Você verá que neste caminho, encontrará muitas mãos amigas ao seu lado.
Psicóloga Fabíola Luciano – CRP 104468
Especialista pela Universidade de São Paulo – USP
Referências para informações:
http://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34977